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Publicação: 19/01/2021   Comentários: ()   Categoria: Últimas Notícias - Visitas: 5981
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Impasse afeta escolha do fornecedor do People Mover do Aeroporto de Guarulhos

Um impasse entre a GRU Airport e o governo federal está postergando a decisão a respeito do sistema People Mover que será implantado no Aeroporto de Guarulhos a fim de conectá-lo à Linha 13-Jade da CPTM. Após o aval do TCU e do Ministério da Infraestrutura para alterar o contrato de concessão do aeroporto e descontar o valor a ser investido no projeto das parcelas de outorga, resta escolher a empresa fornecedora, porém, a GRU se mostrou favorável à proposta mais cara, da empresa austríaca Doppelmayr, contrariando o termo de referência da concorrência.

A razão apontada pela GRU Airport envolve a constatação de que a proposta mais barata, feita pelo consórcio nacional AeroGRU (Aeromovel, TB, FBS e TSEA) possui riscos em seu projeto que podem tornar o sistema sujeito a problemas. Em documento enviado pela concessionária ao Tribunal de Contas da União, a empresa aponta que o Aeromovel, veículo que se desloca por meio da compressão de ar na própria canaleta das vias, não possui nenhum exemplo prático de operação SIL4 (Safety Integrity Level 4), que permite vagões automatizados e que não conseguiu comprovar que o consórcio é capaz de cumprir as especificações de sua proposta.

Criada pela engenheiro Oskar Coester nos anos 70, a tecnologia do Aeromovel tem poucas aplicações: há apenas um sistema implantado na Indonésia e o People Mover do Aeroporto de Porto Alegre, e que passou por vários problemas operacionais. A empresa gaúcha, no entanto, tem buscado estruturar sua tecnologia com parceiros como a Marcopolo, que ficou incumbida de fornecer os vagões.

No mesmo documento, a GRU Airport defende a proposta do GRU Connecta, consórcio liderado pelo Doppelmayr, tradicional fabricante de teleféricos e que possui vários sistemas de People Mover implantados nos últimos 15 anos. Sua tecnologia, por cabos, é vista por exemplo numa linha da cidade de Caracas, na Venezuela. No entanto, o People Mover da empresa austríaca tem um custo estimado de implantação e operação muito alto, de R$ 441 milhões contra R$ 225 milhões da proposta brasileira, ou quase o dobro. E não atende ao requisito de segurança SIL4, porém, nesse caso, a concessionária diz ter sido convencida de que o nível SIL3 atenderia as necessidades do projeto.

É nesse sentido que a concessionária que opera o maior aeroporto brasileiro deseja que o governo federal assuma os riscos da implantação do Aeromovel. “Se for essa a vontade do Poder Concedente, GRU Airport, aceitaria, após aprovação em todos os fóruns de Governança, seguir com tal contratação se os riscos relativos à implementação e operação do sistema APM fossem alocados a terceiros, fossem eles o próprio Poder Concedente ou uma seguradora reputada“, diz trecho do documento enviado por ela ao TCU nesta semana.

Ou seja, ela executaria o projeto, mas qualquer possível problema seria custeado pelo governo federal ou uma seguradora paga pelo mesmo. A GRU ainda sugere uma outra solução, de licitar o projeto diretamente pelo governo: “o Poder Concedente, se assim preferir, licitar diretamente a contratação da empresa responsável pela implementação e operação do APM, desde que preservado o equilíbrio econômico financeiro do Contrato de Concessão”.

A possibilidade de o governo federal assumir o risco de implantar o Aeromovel foi rechaçada pela ANAC, a agência de aviação civil brasileira, a quem a GRU responde. Segundo ela, “quanto ao posicionamento da GRU Airport, segundo o qual os riscos relativos à implementação e operação do projeto APM [Automated People Mover] deveriam ser alocados ao Poder Concedente, esta Superintendência mantém o posicionamento que orienta a elaboração da matriz de risco dos processos de Concessão de Infraestrutura Aeroportuária, e entende que tais riscos devem ser suportados pela Concessionária, tendo em vista que esta tem maior capacidade de gerenciá-los e mitigá-los“.

Novela de quase uma década

A implantação do People Mover, às vezes referido pelo governo do estado como “monotrilho”, é uma novela que se arrasta desde 2012 quando a GRU Airport assumiu a concessão do Aeroporto de Guarulhos. Na época, em meio ao clima de otimismo na economia e aos projeto ligados à Copa do Mundo de 2014, o presidente da concessionária afirmou que a empresa implantaria o People Mover para ligar o terminal aéreo à Linha 13-Jade, então em início de construção. A solução era uma compensação pela decisão da GRU de impedir que a linha da CPTM tivesse uma estação próxima ao atual Terminal 2 do aeroporto.

No entanto, desde então a GRU passou a ter problemas financeiros por conta sobretudo das previsões frustradas de demanda no aeroporto. Em vez de “monotrilho”, ela colocou um serviço de ônibus gratuito entre os terminais e a estação Aeroporto Guarulhos, causando desconforto e demora no deslocamento dos passageiros.

Em 2019, logo que assumiu o governo, João Doria prometeu uma solução, que foi apresentada no final do primeiro semestre após negociação com o governo federal e a GRU, a volta do People Mover, mas cujos recursos viriam do desconto na outorga. Em outras palavras, bancado exclusivamente pelo governo Bolsonaro.

Apesar da promessa do tucano de entregá-lo em março deste ano, o projeto encontrou vários obstáculos legais para evoluir. A situação parecia ter sido solucionada no final do ano, mas resta agora saber como definir a seleção do fornecedor do sistema sem que isso se transforme num elefante branco.

Fonte: https://www.metrocptm.com.br/impasse-afeta-escolha-do-fornecedor-do-people-mover-do-aeroporto-de-guarulhos/

 

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